Coragem, o amor covarde

As luzes dançavam junto aos corpos incendiados pela música que ao fundo tocava, fazendo as veias bombear o sangue mais intensamente, como seus olhares.
Os olhares.
Seguidos de sorrisos, faziam-os se perder na imensidão de um sentimento inexplicável, que trazia uma sensação boa ao peito dos dois que a cada segundo chegavam ainda mais perto de tocarem, deixando um deles desnorteado em seus passos.

-Nunca imaginei que estaria aqui... com você. - Disse perto de seu ouvido, omitindo duvidas no olhar do garoto que desacelerou os passos, tocando levemente no braço nu da pessoa a sua frente.

-Não me parecia ser alguém que gostasse desse tipo de ambiente cheio, muito menos que iria me convidar. - Respondeu já entendendo a dúvida.

-Não quando se pode convidar alguém que realmente goste. - Completou ainda sorrindo.
Ela era capaz de sentir o toque arrepiar seu corpo sem menos drama, arrancando un suspiro ao ouvir a voz do outro com uma resposta que já parecia preparada, treinada na frente do espelho.

-Mas eu convidei. E ela veio.

Pouco acreditava que a pessoa que acelera o coração dele estava ali, mas sua mente ainda criava expectativas que ele dissesse, talvez em seu ouvido, que aquela garota era a própria que estava a escutar, fazendo-a franzir o cenho. Agora era ela que tinha duvidas.

-Acredite, eu convidei que eu realmente gosto.

-Acho que você não...

-Eu entendi, perfeitamente o que quis dizer. - Respondeu o garoto já interrompendo a única tentativa dela de garantir que não era ela, omitindo uma reação automática de seu corpo que soltou a respiração que pouco sabia que prendia.
Sorrindo, ela o fitou.
Na sua cabeça já não precisava mais palavras, sequer explicações quando negou com a cabeça, mesmo sorrindo.

-Eu não acredito em você. - Balbuciou, obrigando ele a ler seus lábios antes de se aproximar.

-Você sabe o que faço com corações apaixonados por mais recíproco que possa ser.  - Completou já não dançando mais, olhando-o com um olhar triste.

O coração e os pensamentos dela de fato pertenciam ao dono dos oculos que ali vestia, a suas manias e vontades. Mas ela também poderia machuca-lo, então não devia ama-lo.

-É recíproco? - Gritou em resposta após aquele belo monólogo feito pela dona dos cabelos castanhos que ali estavam soltos, tal que balançou mesmo que ela tenha apenas concordado levemente com a cabeça.

-Já basta. - Completou, deixando de existir o monólogo quando criou a peça fundamental que uniu seus lábios em uma silenciosa salva de palmas que a plateia vinda dos corações apaixonados dos corpos que já não sentiam mais as luzes quentes ou ouviam a musica com a mesma intensidade que os alheios.  Pessoas que sequer notaram que naquela noite, muito mais que os olhares foram trocados pelos amantes jovens que até então tinham medo de sentir algo além da rebeldia obrigatória que sua idade os dava.

-Gosto desses lugares porque me dão coragem de gritar algo que nos corredores desse colégio eu jamais seria capaz de sussurrar. Gosto daqui, por estou com você.

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