Vibes
Vibes
O que seria de mim se não houvesse você? Eu sequer consigo
imaginar, ainda mais quando estamos a distancia de uma única mesa e nos vemos a
observar o céu ainda a amanhecer.
O que seria de mim se não tivesse que ter te tirado daquela
festa sabendo o quanto você bebeu e provavelmente sequer se lembraria disso
amanhã quando acordasse com dor de cabeça e uma maldita ressaca que você me
reclamaria depois?
Talvez seja difícil responder quando te tenho sentado à
minha frente, ainda bêbado e ainda esperando que tragam o milkshake de
chocolate que você pediu a cerca de um minuto e já reclamava que estavam
demorando para trazer.
- Tá, o que gente faz agora? - Te pergunto quando te vejo já
a bebericar os últimos goles daquela bebida que você ainda acreditava que
estava na taça de vidro, fazendo o canudo emitir um barulho certamente
irritante aos ouvidos humanos e sóbrios daquele lugar pouco movimentado.
Na rua as pessoas ocupadas em seu próprio mundo andavam
apressadamente, muitos pareciam atrasados para o trabalho ou para algo que
sequer de fato me importava em saber. Mas era cômico vê-los ali, sem imaginar
ou perceber nossos olhares ainda brilhantes e presos em uma realidade um pouco
diferente da deles que mesmo assim encantava o garoto a minha frente o
suficiente para fazê-lo sorrir enquanto tombava sua cabeça na almofada da
cadeira vermelha.
- Eu não sei… - O que pouco imaginava era o que viria em
seguida de seu olhar travesso direcionado a mim. Seu sorriso era único e
certamente continha algo que naquele momento eu não entendia tão claramente. -
Que tal uns beijinhos? - Completou.
Em uma confusão clara via ele me olhar com certo desejo nos
olhos enquanto eu apenas franzia as sobrancelhas e olhava para o lado crendo
que aquilo era apenas um efeito da bebida que o deixava com ainda mais coragem
que normalmente, fazendo suas perguntas serem ainda mais específicas e suas
ideias ainda mais loucas; apesar de às vezes eu ainda às gostar.
- Como é que é? - Digo ainda confuso, me permitindo até
mesmo a me aproximar um pouco mais dele ao perguntar enquanto ele
brincava com seu colar já a tempos usado como uma forma de demonstrar sua
própria timidez, seu nervosismo e suas manias. Me lembrava das vezes que o vi
mexer nele, sendo elas algumas vezes comigo ao lado, outras quando estava
prestes a aprontar algo que sequer ele sabia no que iria dar. Quando me dei
conta, senti meu olhar suavizar.
- Vai… Só uns beijinhos… - Antes mesmo que ele pudesse
continuar a frase, ele mesmo riu de seus ditos verdadeiramente cômicos e tão
pouco abstinente de álcool. - Eu não conto pra ninguém.
Com a mão apoiada no ar pedindo que ele mesmo parasse, mexi
na touca em ato claro de nervosismo quando o vi ainda a me olhar enquanto
lambia seus lábios. Seria ridículo de sua parte me provocar daquela maneira
quando sabíamos, mesmo que uma hora ele já não lembrasse, que havíamos nos
beijado durante a festa em uma de suas desculpas esfarrapadas de que estava afim
e se eu não quisesse não estaria tão próximo de seu corpo assim. O olhando e de
certo modo observando seus traços mais singelos.
Você está bêbado, Felipe. - Comento antes de o ver dar de
ombros e se levantar, logo me olhando mais uma vez com aquela feição de como se
aquilo fosse tão claro quanto a água que havia no copo a minha frente.
- Isso nunca nos impediu de nada, impediu? - Como um amigo
preocupado ao vê-lo sair da lanchonete sem mais nem menos fui atrás, jogando
duas míseras notas suficientes para pagar e indo até seu corpo que em tão pouco
tempo foi capaz de acender um cigarro e se acomodar perto da janela onde
estávamos sentados.
Seria crueldade de minha parte dizer que não desejava seus
lábios mais uma vez, sem ser necessariamente nas luzes multicoloridas, com
nossos corpos suados de tanto dançar; e também seria falsidade, hipocrisia e
ainda sim, uma mentira.
Pegando o cigarro da sua mão, o jogo no chão antes de o
pisar e perto de mim ouvir um resmungo meu.
- Era o único que eu tin… - Talvez seria uma falta de
educação minha não te permitir falar e te interromper, mas você pouco pareceu
se importar já que seus braços rodearam meu pescoço a tempo de me prender perto
de si enquanto eu ainda estava distraído com o beijo que te dei sem ao menos
avisar. Com um meio sorriso você me olhou antes de me ver revirar os olhos e te
fazer rir.
- O que seria de mim sem você? - Mesmo em um tom brincalhão
e nada sério, você achou uma boa ideia me agradecer assim antes de se aproximar
de novo e dessa vez roubar um riso meu.
Eu de fato não sabia o que seria da sua vida sem mim, assim
como me perguntava toda vez que te via sorrir, fosse bêbado ou sóbrio:
O que seria de mim se não houvesse você?
. . .
Inspirado em Felipe Sorrilha
Escrito por Vic Stefenon
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